A chamada surdez súbita (SS) é definida como uma perda auditiva sensorioneural de mais de 30 dB HL em três frequências contíguas, dentro de um período de 72 horas. É mais prevalente na quarta década de vida, com igual distribuição do sexo e uma incidência anual que varia entre 5-20 casos/100.000 indivíduos.
Aproximadamente 1% dos casos de SS são devidos a doenças retrococleares que podem estar relacionados ao schwannoma vestibular, doenças desmielinizantes ou acidente vascular cerebral. Traumas, Síndrome de Ménière, doenças auto-imunes ou infecciosas (por exemplo, sífilis ou doença de Lyme) correspondem a 10 a 15% dos casos. Nos 85% restantes, a SS é considerada vascular idiopática.
O envolvimento vascular na patogênese da SS vem sendo fortalecido nas últimas décadas. O início abrupto de patologias como infarto agudo do miocárdio (IAM) e o Acidente Vascular Encefálico (AVE) podem estar relacionados com eventos vasculares, assim como um microinfarto na cóclea. A função trombofílica vascular também pode ter um envolvimento nesta patogênese com o exemplo da hiperhomocisteinemia. Em relação a esta condição, ainda não se sabe se a suplementação com ácido fólico e / ou complexo B, capaz de normalizar os níveis de homocisteína plasmática na maioria dos indivíduos, poderia melhorar o desfecho clínico do quadro de SS.
O fornecimento sanguíneo da orelha interna baseia-se somente na artéria labiríntica, sem presença de rede de colaterais e, por isso, a função da cóclea estaria altamente susceptível a eventos isquêmicos.
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Em estudo publicado em dezembro de 2017 pela JAMA Otolaryngology–Head&NeckSurgery, uma coorte com follow-up de 11 anos foi avaliada quanto aos critérios de surdez súbita e sua possível relação com eventos cardiocerebrovasculares, durante o período de 2003 a 2013.
Utilizaram uma amostra de mais de 1 milhão de pacientes provenientes do banco de dados da população sul-coreana, que apresentam um sistema único de informações médicas. Isto representava cerca de 2.2% da população em 2002.
Pacientes com diagnóstico de surdez súbita (2002 a 2005) foram incluídos para cada quatro controles, pareados por sexo, idade, receita familiar, área residencial e comorbidades. Cada paciente foi acompanhado até 2013 para a presença de IAM ou AVE.
Concluiu-se que pacientes com SS desenvolviam mais doenças cerebrocardiovasculares em comparação ao grupo controle (HR,2.18;95%CI,1.203.96). As taxas de sobrevivência livre de AVE foram significativamente menores no grupo de SS nos 11 anos de seguimento, enquanto não houve diferença estatística nas taxas de sobrevivência livres de IAM.
Apesar de existirem algumas limitações de banco de dados, falta de IMC, por exemplo, este estudo sugere uma possível relação entre a SS e doença cardiocerebrovascular. Dessa forma, clínicos devem levar em consideração o possível desenvolvimento de doença cardiocerebrovascular nos pacientes que se apresentarem com SS.
Artigo da Revista pebmed